quarta-feira, 12 de outubro de 2011

“Entre marido e mulher ninguém mete a colher”


Brigas e discussões começam a assediar a relação do casal no dia a dia. Ele só liga aos amigos; recebe chamadas e mensagens e fica incomodado; ela de repente ficou fria e distante; será que existe outra pessoa, ele vem tarde para casa; para ela o trabalho está sempre em primeiro lugar. A insatisfação surge, a relação arrefece, o convívio torna-se difícil.  É por estes e outros motivos que os casais chegam muitas vezes à conclusão que se querem separar. 

Voltando ao ditado”entre marido e mulher ninguém mete a colher”, e remetendo para a terapia de casal, meter a colher de um forma terapêutica, poderá evitar que o casal chegue ao divórcio e um sofrimento maior seja evitado.

Muitos são os casais que procuram a terapia conjugal e grande parte das situações de conflito que chegam aos consultórios dos terapeutas, tem um final feliz. Outras nem por isso. Quando o casal toma a decisão de procurar um terapeuta está a adiar a decisão e a procurar uma espécie de “arbitragem” que os faça pensar e reformular a vida do casal. Está à procura de resolver o conflito. Ainda tem esperança de conseguir um entendimento. O afecto ainda os une.

A família de origem de cada um interfere muitas vezes na vida do casal recém formado. A obrigação de almoçar ou jantar religiosamente na casa dos sogros é uma bênção ao inicio mas depois de algum tempo as acusações surgem, isto para citar um exemplo de queixas de casais. As obrigatoriedades com as respectivas famílias de origem roubam tempo à vida de casal.” Não te separas da tua família! Os teus pais estão sempre em primeiro lugar! “Os modelos aprendidos na infância também se repetem muitas vezes originando conflitos mas ou menos graves, alguns, sem reversibilidade pelo tempo e gravidade das ofensas. 

Com o passar do tempo e o azedar dos conflitos o casal deixa de comunicar, ninguém escuta ninguém. A raiva vem numa escalada simétrica, em que cada um não quer ficar em segundo plano nas acusações e nas ofensas, e, a tolerância acaba. Algumas vezes, para ganhar um pouco de auto-estima, um dos membros ou ambos, deixam entrar nas suas vidas outras pessoas ( antigos namoros, colegas de trabalho…) levando a “traição” para a relação, ainda que muitas das situações não passem do plano platónico. Platónico ou não a dor surge. O conflito está ao rubro. Separar? Não separar? É aqui que surge a procura de ajuda quando o casal ainda tem algo que os prende um ao outro. A procura de ajuda terapêutica para resolver conflitos conjugais faz todo o sentido. O casal aprende a conhecer-se melhor, enquanto casal e a vida melhora em todas as esferas.

domingo, 2 de outubro de 2011

Função materna - normalidade e patogenia




















Uma mãe suficientemente boa, porque não há mães perfeitas e, tendo em conta as diferenças individuais, deve preencher os seguintes requisitos:
  • Ser provedora das necessidades básicas do filho ( sobrevivência física, e psíquica: alimentos, agasalhos, calor, amor, contacto físico, etc.)
  • Exercer a função de para-excitação dos estímulos que o ego imaturo do bebé não consegue processar pela sua natural imaturidade neuro fisiológica. É vulgar ver mães sem saberem fazer quando um bebé esta carregado de estímulos e chora muito. Ou abanam a criança até à exaustão, ou ignoram-na deixando-a à sua sorte num choro sem fim. Bastava um pouco de calma e contenção e algum colo que desse protecção, para que a criança se acalme.
  • Possibilitar uma simbiose adequada: as sensações corporais acima referidas adquirem na criança uma dimensão enorme. A mãe deve emprestar o seu corpo à criança e assim dar sentido a essas sensações possibilitando o "encaixe" dos corpos de ambos, o que se traduz na forma como a mãe pega na criança quando cuida dela para a alimentar, cuidar da higiene etc.
  • Compreender e descodificar a arcaica linguagem do bebé. O bebé comunica através do choro. Chora quando quer comer, quando tem dores, quando está com frio ou calor, quando tem as fraldas sujas. Cabe á mãe descodificar esta linguagem. Quando a mãe baralha tudo e alimenta quando não tem fome, agasalha quando tem calor, está a criar confusão mental ( mundo da psicose) abrindo a porta para a doença.
  • Ser uma presença continuada que " entende e atende" as necessidades básicas do bebé, o que lhe vai proporcionar um senso de continuidade, baseada na prazenteira sensação de que ela " continua a existir"
Uma adequada maternagem implica não só a essa necessária presença da mãe, mas também a condição de saber estar ausente e, com isso, promover uma progressiva e necessária " desilusão das ilusões" em que o bebé aprende a estar sozinho.
Isso remete-nos a uma função essencial de uma boa maternagem : a de frustrar adequadamente. As frustrações, alem de inevitáveis, também são indispensáveis ao crescimento emocional e cognitivo da criança. No entanto se forem demais ou não existirem também são patogénicas. As frustrações em demasia podem ser evitadas, pois tornam-se fonte de dor e castigo, pouco saudável e fonte de revolta. O nunca ser frustrado leva a uma confusão sobre o que é interno e externo, a uma ausência de limites e a um sentimento de omnipotência. As frustrações incoerentes são de igual forma perniciosas. Neste caso da incoerência podemos falar das frustrações ambientais que podem ter sido excessivas e inadequadas, o bebé reage agressivamente com a emissão de sinais de forte agitação, como á espera de que alguém contenha as suas sensações e emoções ainda primitivas, intoleráveis ao pequenos ser. A mãe nestes casos, confunde as sensações, não as descodifica e vai provocando um terror sem nome, que pode levar à psicose.

O discurso da mãe é importante pelo nome que dá ás coisas, ensina os significados. Assim é ela a fundadora dos valores e das auto-representações da criança. Esta é a função normal. Mas, por vezes a mãe dá um duplo sentido ao seu discurso ( double-bind) levando à confusão mental da criança, ficando estas perdidas em papeis de perdedores e desqualificados. São o tipo de mães que dizem “ eu te ordeno que não deixes ninguém mandar em ti” ou diz em altos berros “ não grites”. A criança fica presa nas malhas de um duplo vincula.

Outro aspecto é a mãe poder emprestar as suas “funções de ego”, como as capacidades de perceber, pensar, juízo crítico etc, de modo a organizar e processar as funções do ego do seu filho enquanto este ainda não as tem desenvolvidas.

Um aspecto importante das funções da mãe é ela representar para a criança um espelho em que esta se vai reconhecendo. Reconhecendo como ser amado. Winnicot, psicanalista inglês já falecido dizia “ o primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe, o seu olhar, sorriso, expressões faciais etc”

Outro aspecto é o reconhecimento das angustias mas também das capacidades do seu filho, nomeadamente dos pequenos progressos (para a criança enormes) que ele esteja conseguindo.

Favorecer na formação do psiquismo da criança representações valorizadas e admiradas tanto pela mãe como pelo pai. É relevante a imagem que a mãe tem do pai, pois é esta que lhe passará. Da mesma forma as representações que a mãe tem do potencial do seu filho tornam-se parte importante das representações que este terá de si próprio. Os filhos não gostam de desiludir os pais e se os pais não valorizarem e acreditarem no filho este vai acabar por ser um fracassado.

A mãe é pois um importante modelo de identificação para o filho.
Uma adequada maternagem deve facilitar uma lenta e gradual dessimbiotização ( separação) e abrir caminho para a entrada em cena de um pai, passando de uma diade para uma relação a três, passando a criança a reconhecer a existência de terceiros numa relação. A criança passa de um estado de narcisismo para um estado de socialismo, introduzida pelo pai na sociedade.
 Fonte : Fundamentos Psicanaliticos (David Zimerman)