terça-feira, 30 de agosto de 2011

O retorno ao trabalho depois de férias

O mal-estar e o desânimo aparecem quando a data de iniciar o trabalho se aproxima. Por vezes surgem insónias, dores de cabeça, tristeza e irritabilidade e os sintomas depressivos aparecem, não sendo raro surgir uma depressão.
A depressão pós férias (assim designada) não é mais do que uma depressão reactiva a um acontecimento desagradável ou mesmo traumatizante.
Se a pessoa não gosta do que faz, sente-se injustiçado em temos salariais ou outros, o ambiente laboral é conflituoso e persecutório face ao trabalhador por parte das chefias, então estão criadas as condições para que uma depressão surja. Nestes casos a depressão pós férias é uma depressão “normal” de reacção a um ambiente hostil.
No entanto, a depressão pós férias atinge quase todas as pessoas, sobretudo se o período de férias foi prolongado. Voltar ao ritmo de trabalho é uma tarefa difícil para o organismo, tal como habituar-se a descontrair das obrigações laborais e do ritmo profissional acelerado.
No inicio das férias, algumas pessoas, experimentam nos primeiros dias sensações de ansiedade e angustia pela mudança de ritmo. O nosso cérebro e corpo precisam tempo para adoptar outro ritmo biológico. Levantar tarde, comer fora das horas habituais, não sentir a pressão do telefone ou do chefe demora alguns dias a interiorizar.
Da mesma forma, voltar ao ritmo de trabalho, com toda a carga e responsabilidade que a pessoa tinha aliviado nos dias de férias, pode tornar-se penoso nos primeiros dias ou alguns dias antes por antecipação daquilo que a espera, ou seja, a mudança de ritmo.
Estratégias para amenizar a volta ao trabalho:
Se vai viajar ou passa férias fora de casa, nunca volte na véspera de retornar ao trabalho. O choque é maior para o seu cérebro e corpo.
Se puder faça férias repartidas. As férias prolongadas aumentam essa sensação de desprazer ao voltar. O ideal seria fazer férias duas a três vezes no ano.
Volte três a quatro dias antes e comece a levantar-se mais cedo progressivamente nesses dias para que se habitue a um novo horário.
Se passados três a quatro dias de voltar ao trabalho tiver sintomas de cansaço, insónia, irritabilidade, angústia ou tristeza, então alguma coisa não vai bem consigo. Nessa altura é melhor perceber junto de um especialista qual o problema.

domingo, 28 de agosto de 2011

Depressão bipolar

Cerca de 1% da população portuguesa sofre de Depressão Bipolar. É uma doença que altera as emoções de tal forma que pode conduzir à perda do emprego, à perda das ligações familiares e sociais, ao divórcio, ao suicídio, e ao sofrimento dos doentes e suas famílias. A Depressão não é causada por uma fraqueza pessoal, ou por falta de controlo - é uma doença que pode ser tratada com fármacos e psicoterapia em simultâneo, sendo esta ultima essencial ao processo de tratamento.
Estima-se que 25 a 30% das pessoas com sintomas da doença bipolar não estejam ainda diagnosticadas, até porque muitos doentes se recusam a aceitar ajuda médica, sobretudo quando se encontram na fase de euforia.
O diagnóstico da depressão bipolar não se faz por vezes na altura própria. Mesmo que simplificado, o reconhecimento das peculiaridades da Doença Bipolar diminuem a frustração dos doentes e dos que os rodeiam, possibilitando uma melhor qualidade de vida através de tratamento médico e psicoterapeutico adequado. A família e os amigos aprendem a reconhecer as oscilações do humor, pois a pessoa nega que esteja errada.
A Depressão Bipolar é uma doença psiquiátrica conhecida por Maníaco-Depressiva. É caracterizada por elevadas alterações do humor, com crises repetidas de depressão e de “mania”. Estas perturbações são repercutidas nas sensações, emoções, ideias e comportamentos, com consequências para a saúde e para a personalidade.
Uma crise pode durar alguns dias ou vários meses. Os períodos de estabilidade entre crises podem durar dias, meses ou anos. Também a previsão das crises varia consoante a pessoa. Umas terão uma ou duas crises durante a vida, outras caem repetidamente vezes em certas alturas do ano (caso não faça tratamento) e há ainda outras que têm mais do que quatro crises por ano, são os ciclos rápidos.
A doença pode começar durante ou depois da adolescência, especialmente entre os 20 e os 30 anos, e afecta ambos os sexos em percentagem idêntica.

Fase maníaca
A “mania” manifesta-se em estados de humor elevado, eufórico ou irritável. A pessoa sente-se alegre, altiva, sociável, inteligente e criativa. A elevação progressiva do humor e a aceleração psíquica podem trazer consigo alguns ou todos os sintomas:
Irritabilidade extrema (a pessoa torna-se exigente quando os outros não pactuam com as suas vontades)
Crença não realista das suas capacidades e poderes
Capacidade de julgamento pobre
Comportamento provocante, inoportuno e agressivo
Negação do óbvio, de que está errado
Energia elevada (hiperactividade), reduzindo a necessidade de sono e aumentando o abuso de álcool, medicamentos e drogas para dormir
Auto-estima elevada
Repentinas e imprevisíveis alterações emocionais (a fala é rápida, mudança frequente de assunto, nunca acabando o primeiro, os pensamentos aceleram-se)
Reacções excessivas e interpretações erradas de acontecimentos, irritação e dificuldade de enfrentar comentários banais
Dificuldade de assimilar ideias, transmitindo-as de modo errado
Maior interesse por diversas actividades
Aumento da vontade sexual
Não reconhecimento da doença, tenta recusar o tratamento
Culpar os outros pelo que ocorre de mal, inclusive pela própria doença
Perda da noção da realidade
Incoerência de actos

Fase depressiva
A depressão manifesta-se pela tristeza e pelo desespero. Deste modo, os sintomas são:
Obsessão com pensamentos negativos, não conseguindo afastá-los
Preocupação com fracassos ou incapacidades
Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva
Perda de interesse ou prazer em actividades quotidianas (trabalho, hobbies, pessoas, familiares, amigos e sexo
Pensamento lento, esquecimento, dificuldade de concentração e em tomar decisões
Perda de energia, sentimento de fadiga ou agitação e inquietação
Preocupação excessiva com queixas físicas
Alterações do apetite e do peso
Dificuldades em dormir, ou dormir excessivamente
Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz
Pensamentos repetitivos de morte ou suicídio
Uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de outras substâncias
Podem existir crises mistas, de depressão e de “mania”. É o caso da Depressão Tipo I.O tipo II não apresenta episódios de mania, mas de hipomania com depressão (crises depressivas graves e fases leves de elevação do humor).
Há uma tendência para os pacientes fazerem várias crises de um tipo e poucas de outro; há doentes bipolares que nunca tiveram fases deprimidas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas.
A depressão e a “mania” graves podem ser acompanhadas por períodos de psicose que incluem alucinações (sentir, cheirar, observar coisas que não existem) e delírios (falsas crenças baseadas no ilógico, apesar da existência da evidências do contrário).
O melhor conhecimento, reconhecimento da doença e dos aspectos gerais de tratamento visam permitir uma colaboração mais activa entre todos (doente, família, médico psiquiatra, médico de família e outros técnicos de saúde). Trata-se da sua saúde e da sua vida.

Causas

As causas são multifactoriais. Uma infância pobre em afectos, mudanças e perdas afectivas, insegurança estão na base da génese da depressão bipolar. Depois existem várias teorias biológicas e genéticas que apontam para a mudança química que existe no cérebro quando das crises. Sabemos que as adversidades da vida, constantes e intensas, vão trazendo ao sujeito graves prejuízos ao nível da sua vida afectiva. Ao longo do tempo a química cerebral modifica-se e cada vez surgem mais episódios de bipolaridade. Quanto mais tempo passa mais difícil se torna estabilizar o humor.
Há que ter em atenção as fases agudas e a estratégia de prevenção das crises. Depois de uma crise um doente volta ao normal pelo que é necessário prevenir as crises.

Tratamento

Os tratamentos disponíveis farmacológicos (estabilizadores do humor, antidepressivos e antipsicóticos) e psicoterapia reduzem o sofrimento causado evitando as complicações devastadoras. O médico psiquiatra pode levar algum tempo até conseguir o tratamento adequado ao paciente.
A Psicoterapia, o diálogo sobre as emoções com um profissional qualificado, em associação com o tratamento farmacológico, proporciona suporte, educação e orientação para o doente e sua família.

Tenta conseguir a obtenção de novos comportamentos através da elaboração das emoções. No caso da depressão bipolar é necessário uma intervenção conjunta de medico psiquiatra e psicoterapeuta.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Depressão reactiva

                                                                 Pintura de de Tatro Bryce (Depression)
A expressão “ depressão reactiva” foi criada inicialmente por Reiss (1910), mas foi Jaspers (1913), que delimitou este conceito a partir da introdução da definição da noção genérica de “reacção motivada por um estímulo de natureza externa”. Nesse sentido, as chamadas “reacções depressivas de pesar e de luto”, podem ser consideradas entidades clínicas de natureza externa, porque o conteúdo surge directamente relacionado com um determinante e com as circunstâncias que o envolvem.

A perda de um “ objecto” amado (familiar, amigo, animal, emprego, reputação, divórcio, amizades, etc.) determina habitualmente no indivíduo um sentimento de tristeza e de abatimento que deve ser considerado normal.
Quando porem essa vivência se prolonga e intensifica, tal facto é susceptível de originar uma reacção anormal de pesar.

Uma tal reacção pode aparecer imediatamente a seguir ao traumatismo ou surgir só depois de um período de latência mais ou menos prolongado, durante o qual o individuo manifesta uma sensação de torpor e de certa incapacidade.

Essas vivências evoluem em regra ao longo de cinco fases distintas: uma fase de vigilância face ao acontecimento ou à sua previsão, uma fase de precipitação, uma fase de intranquilidade perante o incomodo da situação, uma fase de alteração comportamental e uma fase de resolução ou libertação.

Do ponto de vista sintomatológico, as manifestações mais frequentes desta reacção são do tipo depressivo: tristeza, insónia, fadiga, medos, sentimentos de culpa, e ideias de suicídio.

Os sentimentos de culpa incidem, regra geral, em auto-recriminações pelo facto de o indivíduo não ter feito isto ou aquilo, por não ter atendido um pedido da pessoa falecida ou por não ter tomado qualquer iniciativa que impedisse o desenlace, como por exemplo no caso dos divórcios.
Podem ainda acontecer certas alterações perceptivas como pensamentos catatimicos, ilusões e interpretações “deliróides” “sobre o que se ouve” e “sobre o que se vê”, raramente essas percepções atingem o nível das alucinações ou delírios, mas pode acontecer.

Para além da tristeza ou da ansiedade provocadas pela perda surge quase sempre uma grande hostilidade por quem o sujeito julga responsável pela perda: médicos, amigos, familiares…etc), quase sempre a pessoa se isola do convívio social e vive a dor a sós.

Quando estas depressões reactivas têm uma evolução normal, ao fim de algum tempo curam-se. Quando isso não sucede e o sofrimento se prolonga no tempo o apoio psicoterapeutico deve ser procurado com o propósito de ajudar a pessoa a elaborar a perda. De contrario, essa depressão poderá acompanhar a pessoa durante anos e condicionar assim, a sua vida física e psíquica, alterando a qualidade de vida do sujeito de forma substancial.
Se este é o seu caso procure ajuda!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Fobias

A palavra fobia deriva de Phobos, deusa grega do medo. Uma fobia é um medo persistente e irracional que resulta no evitamento de forma consciente de objectos, actividades, situações, animais que são temidos. A fobia consiste num aumento da ansiedade, até limites que impedem a pessoa de funcionar normalmente e que causa um mal-estar enorme. 

Existem diversos tipos de fobias: medo dos espaços fechados e abertos, medo de aranhas, cobras, cães, alturas, sangue, aves e penas, medo de morrer, medo da vida social, entre muitas outras. No entanto as fobias são medos deslocados sobre algo que existe ao nível inconsciente, logo são deslocados sobre um objecto do consciente, mais suportável portanto. As fobias são conflitos psicológicos internos que aparecem sobre a forma de medos e que se traduzem no aumento da ansiedade sempre que a pessoa é exposta ao objecto fobigeno.

Pode existir ainda uma atitude contrafóbica, a pessoa em vez de evitar o medo, a pessoa enfrenta-o, aproximando-se o mais que pode e experimentando assim, uma ansiedade extrema.
São exemplos disso, os desportos perigosos, em que a pessoa pode estar a exibir um comportamento contrafóbico. Por vezes até um simples pensamento sobre o objecto fóbico, pode causar ansiedade, não é preciso estar na presença da causa da fobia.
 
Características clínicas das fobias: as fobias caracterizam-se pelo aparecimento de crises de ansiedade extremas, quando a pessoa é exposta ao objecto ou situação, e pode apresentar rubor intenso da face, e situação generalizada de pânico, suores, sensação de mal estar intenso ou desmaio. Dependências de álcool e drogas e quadros clínicos de depressão grave podem ser aspectos associados ao agravamento das fobias.

 
Quando é que se pode dizer que estamos perante uma fobia: quando o medo persiste perante um objecto, animal ou situação,  quando nessas situações a ansiedade aumenta, quando a pessoa evita de forma intensa essas situações, a pessoa é impedida de fazer a sua vida normal.

 
Como se tratam as fobias: existem diversas formas de tratar as fobias, desde medicamentos a terapias de dessensibilização sistemática, entre outros, no entanto este tipo de tratamentos apenas resolve temporariamente. Voltam mais tarde até de outra forma, incidindo sobre outra situação.


A psicoterapia dinâmica é a forma mais eficaz de tratar as fobias. Em poucas sessões começa a sentir-se mais segura, menos ansiosa, começa a perceber a fazer ligações entre as suas reacções emocionais e os acontecimentos de vida e, aos poucos fica liberta para usufruir da vida. Quando o quadro clínico  é muito grave, a pessoa pode ser medicada durante algum tempo para ajudar no processo terapêutico. Os medicamentos sem intervenção terapêutica não resolvem o problema, aliviam durante um tempo, mas não resolvem a verdadeira causa.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Luto, a dor de perder alguém.

A dificuldade em encarar o fim da vida, como parte da existência é o que faz do luto uma experiência tão assustadora. Desde a infância, o ser humano é treinado para não perder e, ao invés de se trabalharem também as perdas, porque fazem parte da vida (continuamente perdemos e ganhamos), incentivamos as crianças a ganhar e acumular ganhos. 
Os pais protegem os filhos de frustrações e, perder é essencial para entender que nada na vida é permanente. Na infância perdemos jogos, objectos e até pessoas (normalmente os avós). Assim, a preparação para encarar a morte de forma menos traumática é possível e começa na infância. 
As crianças podem ir aos funerais e devemos dar respostas honestas (sempre adequadas à idade), acerca da morte, em vez de respostas fantasiosas, como a de que a pessoa foi para o céu, viajou ou tornou-se estrela. No dia a dia é preciso falar das perdas como parte da vida. Ensinar as crianças sobre a finitude ajuda a objectivar a existência, reduzindo a angústia existencial.
Os sintomas do luto são divididos em fases: choque, negação, raiva, depressão e aceitação. Nesse processo, a pessoa experimenta desinteresse pela vida, culpa, angustia e revolta. A duração e a intensidade desses sentimentos, vão depender do histórico de perdas da pessoa, e também do grau de relação com quem morreu (a perda mais dura é a de um filho, pois quebra um ciclo ilusoriamente lógico) e ainda do tipo de morte. Nas mortes traumáticas, acidente, suicídio, assassinato, pode haver uma fase de negação mais prolongada e a culpa e a revolta podem aparecer com mais intensidade.
Para superar o luto é importante não sublimar a dor, ou seja canalizar a energia para algo que distraia da dor. A pessoa tem que mergulhar na dor, chorar e manifestar o seu sofrimento. Faz bem à família reunir-se e falar sobre a perda, ver fotografias, recordar situações. Os rituais também ajudam, porque a recuperação é centrada na aceitação da perda.
O velar o corpo e o funeral são um ritual que permite elaborar a perda, despedir-se da pessoa. Quando não existe corpo para fazer o funeral a perda é muito mais difícil de elaborar, conduzindo a sofrimentos muito prolongados que exigem a intervenção de profissionais. O período de luto corresponde à fase em que a falta da pessoa é sentida em casa dura algum tempo. A pessoa não aparece e a dor piora. É vista e sentida em lugares que era hábito estarem. Há hora que chegava e, metia a chave na porta, continua a existir a sensação que uma chave entrou na fechadura.

Essas sensações vão desaparecendo à medida que a pessoa vai aceitando a perda. É nesta fase que pode existir uma tentativa de resgatar a vida anterior à perda. Mantém-se a roupa no armário, guardam-se todos os objectos da pessoa e em certas famílias impõe-se o tabu. Outros desfazem-se de todos os pertences do falecido, na tentativa de se livrarem da dor com mais rapidez. Para alguns, passa a ser proibido tocar no assunto. Muita gente muda de casa, de profissão e adopta causas viradas para a relação de ajuda como forma de sublimar a dor.
O facto de a pessoa mudar de casa ou de profissão não faz com que a perda e o sofrimento desapareçam. Estas atitudes, funcionam como curas geográficas, mudam de sítio e o sofrimento é recalcado, impedindo a pessoa de reviver/recordar, processo fundamental à elaboração da perda e aceitação da morte.
De uma forma geral leva-se um a dois anos a “elaborar a perda”, depende da capacidade de resiliência da pessoa, ou seja a forma como cada um lida com os problemas e o sofrimento. Durante esse período, vão acontecer as datas importantes (natal, aniversários, etc). Se os sintomas de luto persistem passado algum tempo para alem do razoável (cinco, seis e mais anos), é provável que a pessoa não esteja vivendo as etapas do luto necessárias para ultrapassar a perda. 

O processo considerado “anormal” tem duas reacções opostas: ou a pessoa não sai do luto (a mãe que arruma o quarto do filho, põe a mesa para ele eternamente) continuando a preservar o morto, numa atitude de mumificação, e negação como é óbvio, não saindo daquela fase inicial. Ou então a pessoa nem sequer entra no luto (fica indiferente, não chora, age como se nada tivesse acontecido). Nesse luto adiado, a dor fica guardada em algum lugar e um dia vem à superfície emergindo sob outra forma, normalmente de depressão.
Quando se avalia a história de vida da pessoa (pode até ter passado dez, vinte ou mais anos) encontra-se um luto por elaborar, confundido com a depressão muitas das vezes e, com uma vida cheia de antidepressivos que apenas servem de rolha (impedem o sofrimento de fluir) nestes casos. É aqui, que a ajuda de um psicólogo é fundamental, para ajudar a pessoa a elaborar a perda.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Neurose obsessiva

A neurose obsessiva é uma doença bastante comum, afectando um em cada 40 ou 50 indivíduos. Muitas dessas pessoas nunca foram diagnosticadas ou tratadas, embora os sintomas condicionem de forma grave a sua vida. Talvez a maioria desconheça o facto de esses sintomas constituírem uma doença que tem tratamento. A neurose obsessiva é considerada uma doença mental grave por vários motivos: está entre as dez maiores causas de incapacidade de acordo com a Organização Mundial de Saúde; aparece frequentemente em indivíduos jovens no final da adolescência – e muitas vezes começa ainda na infância – sendo raro o seu início depois dos 40 anos; geralmente é crónica e, se não for tratada, na maioria das vezes os sintomas mantêm-se pela vida fora afectando toda a família.

Os sintomas raramente desaparecem espontaneamente: o mais vulgar é que apresentem flutuações ao longo da vida, aumentando e diminuindo de intensidade, mas estando sempre presentes. Por vezes tendem a um agravamento progressivo, podendo incapacitar as pessoas para o trabalho e implicar sérias limitações à convivência com a família e sociedade, além de terem um grande e permanente sofrimento.

Preocupar-se excessivamente com limpeza, lavar as mãos a todo o momento, verificar diversas vezes portas, janelas ou o gás antes de se deitar, não usar roupas vermelhas ou pretas, não passar em certos lugares com receio de que algo mau possa acontecer depois, não sair de casa em determinadas datas, ficar aflito caso os objectos sobre o móvel não estejam dispostos de uma determinada maneira... Esses são alguns exemplos de acções popularmente consideradas “manias” e que, na verdade, são sintomas de uma neurose obsessiva.

Tenho uma neurose obsessiva ou não?

Muitos pacientes com esta patologia só reconhecem que têm uma doença ao ler ou ouvir nos órgãos de comunicação algo sobre a doença, ou se forem confrontados por algum familiar. Diversos estudos demonstram que leva, em média, mais de oito anos desde o aparecimento dos sintomas da neurose até ela ser diagnosticado por algum profissional. Se você tem dúvidas sobre se tem ou não uma neurose obsessiva procure responder às perguntas a seguir:
1- Lava-se muito?
2- Verifica de forma repetida as coisas?
3- Tem pensamentos que incomodam, e dos quais gostaria de se livrar, mas não consegue?
4- Leva muito tempo para terminar as suas actividades diárias?
5- Preocupa-se muito com ordem, simetria ou alinhamento das coisas?


O que é uma neurose obsessiva?

A neurose obsessiva é uma doença do foro mental, identificada há cem anos por Sigmund Freud e que apresenta os seguintes sintomas: compulsões a efectuar rituais diversos, pensamentos ruminantes de que se não fizer determinado acto, poderá acontecer algo, dificuldade em expressar sentimentos, ter pensamentos em circulo, fazer o contrario daquilo que pensa, agressividade escondida entre outros sintomas. à neurose obsessiva os defensores da causa biológica passaram a chamar Transtorno Obsessivo Compulsivo e incluíram-no no DSM (Manual de Classificação das doenças psiquiátricas) com essa designação. Assim a neurose obsessiva aparece no DSM descrito da seguinte forma:
O TOC é um transtorno mental incluído pela classificação da Associação Psiquiátrica Americana entre os transtornos de ansiedade. Está classificado ao lado das fobias (medo de lugares fechados, elevadores, pequenos animais – como ratos ou insectos), da fobia social (medo de expor-se em público ou diante de outras pessoas), do transtorno de pânico (ataques súbitos de ansiedade e medo de frequentar os lugares onde ocorreram os ataques), etc. Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões e/ou compulsões ou rituais. Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contrair doenças, de cometer falhas, de ser responsáveis por acidentes). Em função desses medos, evitam as situações que possam provocá-los – comportamento chamado de evitamento.

O que são Obsessões?

Obsessões são pensamentos, idéias, imagens, palavras, frases, números ou impulsos que invadem a consciência de forma repetitiva e persistente. Sentidas como estranhas ou impróprias, geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer. O indivíduo obsessivo, mesmo desejando esforçando-se, não consegue afastá-las ou suprimi-las do seu pensamento. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, as obsessões causam sofrimento e levam a pessoa a fazer algo (rituais ou compulsões) ou a evitar fazê-lo (evitamentos) para se livrar do medo ou do desconforto.
As obsessões mais comuns estão relacionadas aos seguintes aspectos: sujidade, contaminação, dúvidas, simetria, perfeição, exactidão ou alinhamento, impulsos ou pensamentos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas, sexo ou obscenidades, armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar, preocupações com doenças ou com o corpo, religião (pecado, culpa, escrúpulos, sacrilégios ou blasfémias) pensamento mágico (números especiais, cores, datas e horários).

O que são rituais e compulsões?

Compulsões ou rituais são comportamentos ou actos mentais voluntários e repetitivos executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar, repetir perguntas, etc. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade, levando o indivíduo a executá-las sempre que a sua mente é invadida por uma obsessão acompanhada de ansiedade. Nem sempre têm ligação real com o que desejam prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de se deitar para que não aconteça algo de mau no dia seguinte; dar três batidas numa pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso, os rituais são chamados mágicos.
Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinónimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão na medida em que as religiões, de forma geral, adoptam comportamentos repetitivos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias, ladainhas. Existem rituais para baptizados, casamentos, funerais, etc. Além disso, certos costumes culturais, como a cerimónia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares, envolvem ritos que estão relacionados com a obsessão. Nestes casos estes ritos ou rituais são organizadores do funcionamento mental se não forem excessivos. Todos os seres humanos tem uma parte da sua personalidade mais obsessiva, mas, a diferença entre isso ser normal e patológico, está no facto de que, na patologia ser causador de sofrimento e praticado em excesso.
A neurose obsessiva quase sempre se inicia na infância, entre 9 e 11 anos e surge principalmente em indivíduos jovens até aos trinta/quarenta anos, podendo durar toda a vida, sendo sempre acompanhada de muita angústia, ansiedade, sentimentos de impotência, diminuição da auto-estima e depressão.

Quais são as causas da neurose obsessiva?

Embora esteja em “moda” dizer que todas as doenças psíquicas tem causas biológicas, o que se continua a verificar é que elas são ambientais e relacionais, ou seja adquirem-se na convivência familiar. Uma educação muito rígida e punitiva, está, vulgarmente presente nos casos que nos aparecem no consultório. Claro que os lobbies associados ás grandes farmacêuticas, transformaram a neurose obsessiva em TOC e atribuíram-lhe causas biológicas. Nunca vi ninguém com esta doença curar-se apenas com medicamentos, embora sejam necessários em muitas destas situações, mas, com terapia psicanalítica e medicamentosa os sintomas melhoram bastante e a pessoa começa a ter outra qualidade de vida, diferente da anterior.

Que tipo de medicamentos se podem tomar para a neurose obsessiva?

São medicamentos chamados antidepressivos e que possuem também uma acção anti-obsessiva. São os seguintes: Clomipramina (Anafranil), Paroxetina (Aropax, Pondera), Fluvoxamina (Luvox), Fluoxetina (Prozac, Psiquial, Verotina, Deprax, etc.), Sertralina (Zoloft, Tolrest), Citalopram (Cipramil) etc.
As doses, em geral, são mais elevadas do que as utilizadas na depressão. Não se assuste se o médico lhe recomendar doses aparentemente muito altas. No entanto tenha em consideração que primeiro deve fazer uma avaliação com o psicoterapeuta que lhe irá recomendar se é necessário recorrer a medicamentos. Esses medicamentos só podem ser receitados por um médico psiquiatra.

Quanto tempo demora até os medicamentos fazerem efeito?
Pode demorar até 12 semanas para sentir algum alívio, razão pela qual o medicamento não deve ser interrompido se o paciente não sentir alívio após as primeiras semanas de uso. O médico, em geral, procura usar inicialmente uma dose média e, caso não haja nenhuma resposta entre 4 a 8 semanas ou uma resposta parcial em 5 a 9 semanas, poderá elevar as doses para os seus níveis máximos, pois alguns pacientes só melhoram com níveis bastante elevados do medicamento. É importante salientar que 20% dos que não respondem a um medicamento poderão responder a uma segunda. Por este motivo é possível que o médico queira experimentar uma segunda droga depois de algum tempo. Também é comum a associação com outros medicamentos quando a resposta não é satisfatória. No entanto essa terapia deve ocorrer em simultâneo com a psicoterapia.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Burnout, a sindrome da exaustão.

A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico, precedido de esgotamento físico e mental intenso, definido por Herbert J. Freudenberger como "(…) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional".
A síndrome de Burnout ( burn out, queimar por completo), também referida como síndrome do esgotamento profissional, foi assim denominada pelo psicanalista nova-iorquino, Freudenberger, após verifica-lo em si mesmo, na década de 70.
A dedicação exagerada à actividade profissional é uma característica marcante de Burnout, mas não a única. O desejo de ser o melhor e sempre demonstrar um alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: o portador de Burnout mede a auto-estima pela capacidade de realização e sucesso profissional. O que tem início com satisfação e prazer, termina quando esse desempenho não é reconhecido. Nesse estágio, necessidade de se afirmar, o desejo de realização profissional transforma-se em obstinação e compulsão.
Sintomas de Burnout:
  • Necessidade de se afirmar ( quer fazer tudo sozinho)
  • Dedicação intensa - com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho;
  • Descuido com as necessidades pessoais - comer, dormir, sair com os amigos, começam a perder o sentido;
  • Recalcamento dos conflitos - o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;
  • Reinterpretação dos valores - isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da auto-estima é o trabalho;
  • Negação de problemas - nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contactos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
  • Recolhimento;
  • Mudanças evidentes de comportamento
  • Vazio interior;
  • Sintomas depressivos ( baixa auto-estima, culpabilidade, desistência da vida, falta de esperança)
Os sintomas físicos são variados: fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, muita falta de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, problemas digestivos. O Burnout é geralmente desenvolvido como resultado de um período de esforço excessivo no trabalho com intervalos muito pequenos para recuperação, mas o que prevalece da prática clínica é que trabalhadores com determinados traços de personalidade são mais susceptíveis a esta síndrome. A génese do Burnout não é consensual. Enquanto alguns estudos defendem que o burnout refere-se exclusivamente a uma síndrome relacionada à exaustão e ausência de personalização no trabalho, outros dizem ser um caso especial da depressão clínica ou apenas uma forma de fadiga extrema.
Os Trabalhadores da área de saúde são frequentemente propensos ao Burnout. Cordes e Doherty (1993), em seu estudo sobre esses profissionais, observaram que os profissionais que têm interacções intensas ou emocionalmente carregadas com outros estão mais susceptíveis.
Os estudantes são também propensos ao burnout nos anos finais do ensino ; curiosamente, este não é um tipo de burnout relacionado com o trabalho, talvez isto seja melhor compreendido como uma forma de depressão. Bancários e professores parecem ter mais tendência ao burnout do que outros profissionais.
Os médicos e enfermeiros parecem ter a proporção mais elevada de casos de burnout (de acordo com um estudo recente no Psychological Reports, nada menos que 40% dos médicos apresentavam altos níveis de burnout)
A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das consequências mais marcantes do stress profissional, e caracteriza-se por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade em relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional).
O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de stress consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.
No entanto a prática clínica mostra-nos que o Burnout, não é mais do que uma depressão grave que surge associada ao trabalho, mas que tem na sua génese uma personalidade depressiva e com muitos conflitos internos. Dificilmente esta perturbação surge em pessoas bem resolvidas emocionalmente.
Na conjuntura económica e social derivadas de acções politicas, que existe em Portugal ,propicia, actualmente que surjam cada vez mais situações ligadas ao stress profissional. Claro que quanto maior for a propensão da pessoa para estados mais depressivos, maior será o risco de vir a sofrer desta sindrome. 
A cura para este problema nem sempre passa pela ingestão de medicamentos que a médio prazo trazem consequências físicas ao corpo humano. A psicoterapia poderá ser outra alternativa.
Se sente que estás nestas condições procure ajuda.

domingo, 21 de agosto de 2011

Ansiedade patológica

A ansiedade é uma emoção normal que existe em todos os seres humanos e de extrema importância para a sobrevivência. É com a ansiedade que nós aprendemos a proteger-nos dos perigos físicos e psicológicos. Ficamos ansiosos quando antevemos o perigo de sermos assaltados, agredidos física ou verbalmente, dos nossos filhos serem atropelados na rua, entre muitas outras situações em que a ansiedade nos impele a preservar a integridade. Portanto, a ansiedade é uma emoção reguladora da sobrevivência da espécie e como tal através da sua acção o ser humano aprende a defender-se do perigo. Esta é a função normativa da ansiedade, que, se estiver regulada(uma ansiedade normativa) desaparece rapidamente e, actua sobretudo como estimulante, ou seja, o ser humano precisa de manter níveis de ansiedade normais, para que consiga efectuar tarefas de qualquer natureza. Quando o homem deixa de conseguir regular a ansiedade é porque ela se tornou patológica, logo fora do controlo da pessoa. Pode ter niveis de ansiedade elevados ao máximo,como pode não possuir qualquer ansiedade normal, que seja geradora de algum tipo de trabalho ou actividade. Em ambos os casos falamos de patologia.

O que é que causa a ansiedade?
As dificuldades da vida são normalmente o factor desencadeante da ansiedade patológica e nos casos agudos da angústia. Além disso as dificuldades pessoais de inserção na sociedade, os conflitos internos do domínio afectivo, emocional e sexual podem conduzir a uma sintomatologia ansiosa. As investigações indicam que toda a pessoa que sofre de ansiedade grave tem um profundo sentimento de desamparo psíquico oriundo de relações parentais pouco seguras ou de uma insegurança total, portanto, o que subsiste é o sentimento de desamparo e sentimentos depressivos.

Há relação entre ataque de pânico, fobias e ansiedade?
Claro que há. A fobia é um medo irracional de um objecto/animal ou situação. Os ataques de pânico são uma manifestação aguda de angústia sem causa aparente declarada, que podem paralisar um indivíduo através da sensação de asfixia ou medo de morrer. Todo este conjunto de sintomas não são mais que expressões diferentes de ansiedade.

Há alguma relação entre ansiedade e depressão?A ansiedade faz parte do quadro clínico da depressão e está associada às alterações de humor e aos estados depressivos. Podemos assim dizer que todas as pessoas que sofrem de depressão têm graus mais ou menos intensos de ansiedade, assim como quem sofre de ansiedade está deprimida ou em vias de deprimir.

Quais são os sintomas da ansiedade grave?A ansiedade é acompanhada de vários sintomas físicos: aceleração respiratória, alteração do batimento cardíaco, xixis frequentes, diarreia frequente, desfalecimento das pernas, palidez, contracção ou relaxamento do musculo facial, sudação das palmas das mãos ( resposta galvânica da pele), sudação de todo o corpo, sensação de vertigem.

Como é que a ansiedade evolui de normal para patológica?
Quando a pessoa já não consegue controlar as emoções e sente-se num estado de ansiedade generalizado, ou seja, em todas as situações da sua vida quotidiana. As emoções descontrolam-se, o cérebro deixa de produzir neurotransmissores e a ansiedade instala-se impedindo a pessoa de funcionar. Aparecem as mais diversas fobias, ou ataques de pânico, geradores de um desconforto enorme.

O que é e como se manifesta a ansiedade generalizada?
A Ansiedade Generalizada manifesta-se por um estado de tensão, duma inquietude permanente, sem que algum acontecimento exterior o possa explicar. São pessoas que estão permanentemente em sobressalto e sofrem com isso. O sintoma-chave é uma ansiedade ou um medo não realista, e excessivo, face a acontecimentos futuros.~

As queixas somáticas são: dores de estômago, dores de cabeça (cefaleias), diarreia, suores e transpiração excessiva, vertigens.... Esta psicopatologia torna-se um handicap porque torna a vida complicada e difícil de ser vivida, nomeadamente no quotidiano, no trabalho e nas relações pessoais.
Estima-se que a sua prevalência seja de 3 a 7%, com uma incidência mais elevada nos filhos mais velhos e nos filhos únicos. São pessoas muito conscienciosas e que têm necessidade de serem tranquilizadas permanentemente.
A ansiedade generalizada evolui para doença: transforma-se em fobias e obsessões /compulsões.

Tratamento da ansiedade

 Sofrer de perturbação da ansiedade não é nenhuma banalidade nem uma fatalidade. Os tratamentos para cada tipo de ansiedade variam e são estabelecidos em função da natureza do problema (fobias, obsessões, pânico, etc.) e estabelecidos em função da personalidade do sujeito que as sofre.
Podemos encontrar ansiedades que se exprimem por outros tipos de sintomas como por exemplo, no caso de homens com ejaculação precoce, ou com impotência sexual, ou casais que há muito tempo tentam ter um filho, etc., depois de se terem realizados os despistes e exames médicos necessários, e ter-se verificado a ausência de efeitos fisiológicos, verifica-se que a ansiedade e a perturbação emocional são um factor enorme e responsável, na manutenção dessas dificuldades.

Ou ainda, pessoas que encontram no álcool, ou nas drogas, um escape para verem as suas angústias e preocupações aliviadas, e acabam por entrar num esquema traiçoeiro onde num primeiro momento as utilizam como qualquer coisa que ajuda a ficar mais calmo e que até dá prazer, mas mais tarde num esquema de dependência.
Os exemplos podem ser vários, mas o importante a saber é que, uma grande parte das ansiedades patológicas são curáveis, outras serão susceptíveis de melhoramentos consideráveis que permitem, na generalidade, devolver às pessoas uma vida normal.
O tratamento é combinado em algumas situações, ou seja, com terapia medicamentosa ansiolíticos e antidepressivos e psicoterapia em simultâneo. Saliento que só a medicação não resolve o problema é sempre necessário fazer a psicoterapia. O objectivo da medicação é ajudar inicialmente no processo da psicoterapia. 

sábado, 20 de agosto de 2011

Anorexia


O corpo da mulher como ideal de beleza tem sofrido ao longo dos tempos, diversas imagens com aspectos mais ou menos valorizados. Esses aspectos estiveram sempre relacionados com a quantidade de massa adiposa considerada bela para a época. Em épocas passadas as formas cheias das mulheres aparecem muito valorizadas nas pinturas renascentistas. As mulheres foram desde sempre o ideal de beleza enaltecido pela pintura e literatura nas diversas culturas existentes no nosso globo.
 Actualmente a relação entre a mulher e o seu corpo tornou-se mais evidente, uma vez que a exigência de um corpo magro, esquálido por vezes, entendido como um padrão de beleza recai principalmente sobre o sexo feminino. 
A preocupação com o corpo tornou-se uma manifestação frequente nos relatos clínicos, centrando-se na imagem corporal e se estão mais ou menos gordas. Por consequência vem a preocupação com a comida e uma batalha com exercícios físicos, dietas e contagem de calorias. Evidentemente que nem todas as mulheres que fazem isto sofrem de anorexia, no entanto existem as que vivem uma autêntica tirania da magreza, suprimindo completamente os alimentos, causando sérios danos físicos e psíquicos e imenso sofrimento para elas e para a família. 
Se são os ditames da moda propagados pela comunicação social ligada ao meio os responsáveis pela disseminação desta imagem de beleza que podemos apelidar de cadavérica, ou uma doença que se esconde por detrás de um padrão de beleza, o facto é que uma doença mortal quando não tratada. Podemos descreve-la através de características bem especificas. A anorexia nervosa tem início no princípio da adolescência e atinge na maioria o sexo feminino, existindo também nos rapazes mas em menor percentagem. 
É reconhecível pela insistência que as pacientes apresentam em manter um peso abaixo do padrão de normalidade, que é o resultado da privação alimentar apesar de sofrerem terrivelmente com a fome. Esta doença começa geralmente a partir de uma dieta em que são restringidos muitos alimentos considerados “ alimentos que engordam”, conduzindo com o decurso da doença a uma perda de peso muito acentuada apresentando a adolescente ou mulher jovem um corpo esquálido e quase andrógino. Aos poucos passa-se a viver exclusivamente em função da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, o que dificulta o convívio social, tornando-se este por vezes inexistente.

Sintomas de quem tem Anorexia Nervosa 
  • Emagrecimento rápido;
  • Desculpas frequentes para não comer ou para o fazer isoladamente;
  • Ingestão exclusiva de frutas e saladas;
  • Consumo excessivo de laxantes e diuréticos;
  • Actividade física exagerada;
  • Mudança de temperamento – maior agressividade, irritabilidade e isolamento social;
  • Perturbações do sono;
  • Perda da menstruação ou da capacidade de erecção;
  • Queda do cabelo ou manchas nas unhas;
  • Perda do desejo sexual. 

 A intensa ligação com a comida, (patológica é claro) em alguns casos, torna o hábito alimentar cada vez mais secreto, bizarro e ritualizado, ao ponto de por vezes, ainda no início ninguém se aperceber do problema a não ser pelo facto da adolescente ou mulher estar cada vez mais magra.
Em estados muito avançados as pacientes deixam de fazer a sua vida normal, quase sempre por incapacidade física, levando a internamentos muitas vezes com estados muito debilitados, que podem ser fatais, pois o corpo desnutrido deixa de funcionar levando ao colapso de órgãos vitais, tais como o coração e os rins. 
Quando as adolescentes resistem à vontade de ingerir comida, tal é sentido como um triunfo, mas se pelo contrario não o conseguem fazer quer por imposição da família, ou aspectos sociais, então sentem-se tristes e deprimidas, levando a hábitos de esconder comida para não a ingerirem, não se sentarem à mesa com a família com a desculpa de estudar e irem comer para o quarto ou outros afazeres urgentes, ou então na impossibilidade de restringir os alimentos provocarem o vomito para controlar o peso.
Esta doença não é, contudo, um produto dos dias actuais ao contrário do que se possa pensar data de 1689 a primeira descrição na literatura médica sobre pessoas que rejeitavam alimentos, no entanto devido à facilidade de comunicação é hoje mais visível. Outras descrições são mais anteriores datando à idade média, da qual existem documentos referentes aos jejuns de raparigas que na tentativa de escaparem a casamentos forçados se privavam de alimentação ao ponto de perderem os contornos do corpo e caírem doentes e assim fazerem o noivo desistir do enlace.
A ideia que a anorexia é uma doença de causas orgânicas tem sido passada de alguma forma por quem que encontra explicação para tudo no biológico. No entanto está provado desde há algum tempo que a anorexia é uma doença do foro psíquico, que se traduz depois em manifestações físicas e psicológicas. Tal confusão, que traduz a anorexia numa doença apenas do comportamento alimentar, pode ser extremamente perigoso, pois pode conduzir à eliminação dos sintomas físicos, pela ingestão de alimentos e descurar a parte psicológica verdadeira causadora da doença. 
A anorexia é uma doença do foro emocional, em que os afectos estão perturbados por isso incapazes de deixarem o corpo funcionarem levando a comportamentos de oposição pela retirada voluntária dos alimentos, virando ao que parece uma raiva surda contra si próprias que faz as adolescentes definharem perante os olhos dos pais e amigos, como se através de um corpo magro exibissem o sofrimento e o horror da sua vida interna. De salientar que esta doença requer ajuda especializada, envolvendo uma equipa multidisciplinar ( médicos, psicoterapeutas e psiquiatras) onde o acompanhamento psicoterapêutico prolongado é fundamental para o tratamento desta doença.