sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Depressão

     

A depressão é uma doença que compromete o físico, o humor e, em consequência o pensamento. Altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. É, portanto um problema da esfera afectiva e do humor. Não é sinal de fraqueza por falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pelo esforço ou força de vontade.
A depressão é uma doença dos afectos. O que são os afectos? São uma parte do nosso psiquismo, responsável pela maneira de sentir e perceber a realidade. A afectividade é, então a   parte psíquica que tem a seu cargo a descodificação dos significados dos nossos sentimentos. Se aquilo que estamos a viver é prazeroso, então os afectos estão bem e a pessoa sente-se bem.  Se, pelo contrário, for desagradável, sofrível, angustiante, causa pânico ou medo a pessoa poderá começar a adoeçer e com a exposição a esses estímulos desagradáveis deprimir mesmo. Os afectos podem ser comparados a lentes com as quais vemos o mundo. Depois, cada pessoa faz uma leitura diferente dos acontecimentos de vida e obviamente, organiza-se face a eles de forma diferente. Assim, uns vêem as coisas mais coloridas, sempre optimistas, outros sempre pessimistas, outros integram as duas coisas em doses equilibradas, entre outras formas de perceber a realidade. A sensibilidade percebida por esses afectos é sempre uma construção pessoal, dai que seja diferente em todos os indivíduos.
Existem diversas opiniões sobre a depressão. Uns autores defendem que se trata apenas de transtornos químicos no cérebro, por isso, curáveis apenas com medicamentos, outros que são resultado das vivências de cada um, outros que são distorções cognitivas da realidade. A depressão é tudo o que foi descrito atrás mas, a prática clínica psicoterapêutica mostra-nos que a depressão não se cura apenas com medicamentos, ou com força de vontade ou alterando a forma como as pessoas entendem a realidade. As funções cognitivas estão  bem, mas as emoções não, porque a pessoa deprimida tem noção do seu estado, mas não o consegue alterar sozinha. Acontece com muita frequência as pessoas tomarem medicamentos durante anos, e lutarem por terem pensamentos positivos, e nunca melhorarem. Em casos muito graves de depressão, poderão ser necessários medicamentos, porque, sabemos hoje graças ao avanço das neurociências, que as emoções afectam o funcionamento do organismo, logo, alteram a parte química, mas, senão existir a parte afectiva e relacional encontrada numa psicoterapia, raramente se curam. Outros casos curam-se apenas com psicoterapia sem necessidade de medicamentos. O que eu defendo é que a psicoterapia é essencial para a cura da depressão pois é com base na relação que os afectos são normalizados.
Como se manifesta a depressão? O quadro da depressão é o mais variado possível, de acordo com a estrutura de personalidade de cada um, no entanto existem dois sintomas que são os marcadores dessa doença: a culpa, e a baixa auto-estima sempre evidentes no discurso das pessoas afectadas.